“Versos não se escrevem para leitura de olhos mudos” [Mario Quintana]

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Poeta do Mês




... e veio o grito libertador
partindo os grilhões das entranhas
rompe-se o casulo

a lagarta, enfim, voava
livre e verdadeira
de pele nova
de cara nova
rumo à sua vida
outrora aprisionada


...mulher alada
borboleta solta e bela
sobrevoa os céus e as matas
povoando de risos e prazer
o peito dos que se rendem
à beleza e às delícias
de se transformar em si.
Lilian Maial

SEM PERDÃO!
                                ®Lílian Maial

É chegado o dia do não,
da recusa, de impor a vontade.
Não há que maquiar
hematomas e falsos amores.

É tempo de caminhar os passos,
deixar de temer pegadas.


Descalça!
Não há cacos suficientes,
nem desculpas.

Despida!
Não há palavras ou músicas
de atenuar feridas.

Limpa!
Não há história, nem palmatória
a macular a pele da verdade.

Livre!
Não há planos, nem fugas,
nem laços de prender escolhas.
Apenas a trilha em frente,
casa de assustar e construir.
Não há perdão para a morte,
nem há depois para a vida.




    O MEU CANTO
    Lílian Maial



    Eu canto porque sou voz
    cantor só, sem palma ou fãs.
    E também que sou feroz:
    eu canto para as manhãs.

    Canto como quem respira:
    sem fronteiras ou amarras.
    Canto como quem suspira,
    eu canto como as cigarras.

    Eu canto a palavra esperta,
    renego dor, violência.
    Eu canto essa flecha certa,
    sem dó, nem benevolência.

    Canto o riso e o amor,
    e a paz que brota: o respeito.
    Espanto o bater com a flor
    e grito o que for direito!

    Eu canto sem pejo algum,
    como quem se sabe entranha.
    E canto o lugar-comum,
    canto essa força estranha.

    Canto com o amor à vida
    e aquilo que dela é bom.
    Se morrer, canta essa amiga,
    mesmo que fora do tom.

    Eu canto esse meu sorriso,
    o sol que, na pele, arde.
    Eu canto em eterno siso,
    canto essa LIBERDADE!



LASCA

Lílian Maial
Ergo-me estranha,
sem espelhos,
sem janelas.
Na caverna,
o mau cheiro das entranhas,
vísceras dilaceradas na cozinha.
Estou em peles,
ovelha negra,
lasca de placa tectônica,
instável,
movediça,
primitiva.
A gruta é rude,
o homem é rude,
meio fera, meio fruto do meio.

Acuada,
percorro os espaços,
confiro os trapos e pedaços,
sou eu?
Em meus subterrâneos,
vulcão, lava, erupção.
Na superfície,
magma, rocha, crosta.
Na arrogância da paisagem,
movo-me,
borboleta



PORTAIS
Lílian Maial
 




Às portas da angústia,
aos pés da hipocrisia,
nada é dito,
nada é exposto,
é tudo silêncio e vazio.


 

Alada e linda,
de asas ousadas,
seu vôo é punhal
nos pássaros-corvos,
nas negras aves da escuridão.

 
As portas fechadas, o medo,
imposto pelos dias e pelos homens,

e a cruz é o preço da liberdade,
que faz crescer o resplendor,
o mesmo que atiça o brilho dos olhos
e o viço da pele.

De joelhos, o peso do fardo,
o fardo das plumas,
o prazer da verdade.

Novamente erguida,
abre-se o portal de luz,
e volta as costas ao portão
fechado de fachadas,
encontra as cores do destino,
o vôo mais lindo,
na pureza de suas escolhas.


 

 
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