“Versos não se escrevem para leitura de olhos mudos” [Mario Quintana]

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Fabrício Brandão*


EU SEI POR ONDE ANDA WALLY*



Vejo-te, poeta,
Quando desces o largo
De pedras calcadas pela expiação secular.
Abres o verbo,
O mesmo que te salta ao peito
Por entre o tecido floral que carregas.
Enquanto se atiras ao declive histórico,
Tuas mãos gesticulam
Da mesma forma como habitavas,
Outrora,
Entre nós.
Tens entre os dedos o substrato de nossas vidas
Traçado em linhas que se dispersam num tempo,
Espiral que gira e nos confunde.
Será que somos os mesmos?
No entanto, há ainda a boca que dispara
Abstraindo de tua afiada língua
As palavras que berras por entre os invisíveis.
Não somos mais os mesmos
E quando desta tua última visita
Saímos a buscar os sentimentos dos lugares.
De teu trunfo já posso me confortar
Como quem sempre soube os teus enigmas
E por mais que percorras
Estas vias de almas embutidas em pedras
Sei
que nunca deste força ao abandono

Porque sempre tornas a esta cidade.

(*Para Wally Salomão)

Fabrício Brandão


[O baiano Fabrício Brandão é editor da Revista Eletrônica Cultural DIVERSOS AFINS
Comunicador por formação, dedica-se à poesia e alguma prosa, acreditando que a magia do mundo só é descoberta quando as palavras saem das gavetas e cruzam as ruas ao encontro de um outro alguém. Recentemente, participou do livro Diálogos – Panorama da nova poesia grapiúna (Ed. Via Litterarum/Editus - 2009).]



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