“Versos não se escrevem para leitura de olhos mudos” [Mario Quintana]

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Walter Cabral de Moura*


ÀS VEZES DÁ-ME VONTADE DE NADA

[Umberto Boccioni]
                Às vezes dá-me vontade de nada.
                Nada ver, nada dizer ou pensar. . .
                mas se é assim, por que este escrito?
                Também não sei, talvez o nada não
                seja integral. Seja um quase nada,
                então: pouquíssimo ver. Distinguir
                na bruma do pensamento, na névoa
                da consciência, com uma letargia,
                uma fumaça fria, onde só
                se movam, lentamente, os lagartos
                à procura de rochas aquecidas
                para que lá fiquem, em inação
                durante longas, eternas manhãs.
                E de tal modo, ausente, longínquo
                nadificado na demora dos
                tempos, vindo de estrelas distantes,
                de pré-históricas eras ou de
                profundíssimos magmas, pudesse
                enfim achar-me. Só. Em meio ao vácuo.
                E estas palavras? Ah! Também para nada. . .
Walter Cabral de Moura*
[*Walter Cabral de Moura (1955) é de Recife, Brasil. Biólogo e analista ambiental federal. Publicou por conta própria: Brilha, Cosmos (1975) e Livro dos Silêncios (2000), ambos de poesia. Tem inédito É lenta a palavra tempo. Participou das coletâneas Fauna e Flora nos Trópicos (Fortaleza, 2003); Pernambuco, Terra da Poesia (São Paulo, 2005); Antologia de Escritas n° 4 (Lisboa, 2008). É membro da União Brasileira de Escritores - seção Pernambuco.]

Nenhum comentário:

Postar um comentário