Paraisópolis
(Diane Padial*)
Os passarinhos, eu não os tenho ouvido
Todos devem estar acuados em algum cantinho verde, descoberto neste território
Hoje tem cavalaria, tem cachorro bravo
O som agora é papapapapapapapa
Há um pássaro de aço sobre a minha cabeça
Sobre a favela este som que faz a vigília, todo o tempo
Nas entradas, tudo que é camuflado esta explícito
Todos uniformizados
Lá o aço também se faz presente em formato de fuzil
Do céu o som
Dos lados, a imagem do uniforme, o controle
Aqui dentro, uma só pressão
No peito, na garganta, nos olhos
E no estômago
As pessoas passam olhando para o chão, suas caras estampam a tristeza imposta
A rua que é sempre cheia, com as pessoas de roupas coloridas, está quase vazia
Pouco movimento
Não agüento mais esta máquina na minha cabeça
papapapapapapapa
A cidade Paraíso no seu antagonismo máximo
Contradições, desproporções, uma cadeia ao ar livre,
Contradição...
Os contra e os a favor
Uma garota me diz ao telefone;
"Desculpa, ontem eu não fui à aula por causa da guerra"
Escuto e não acredito aquilo parece um raio dentro de mim.
A guerra
É isto, olha, escuta ........ papapapapapapapapa
Ele não para
Vigia este povo, esta gente com a pele escura
Esta gente quase nua, vigia, controla
A guerra,
É só isto
Aqui são 80 mil, e o espaço.... só um pedacinho de chão
assim ....o Paraíso
Paraisópolis,
Todas as pessoas vigiadas, todas as lotações verificadas, cada sacolinha que a humilde senhora carrega tem que ser mostrada, as casas invadidas para averiguações
Humilhação
Por cima, pelos lados, controle, opressão
Debaixo esta a pressão, vai explodir, vem explodindo,
E assim vem aquela força e os meninos vão
Seus atos são vândalos, mas o seu inconsciente não
Traz dentro de si o arquétipo do cabresto, a humilhação, a miséria de seu povo,
Lamentavelmente o seu grito é assim... visceral, irracional, é na paulada, tijolada,
Foram vândalos, marginais,
Os meninos sem escolas, nem estas de mentirinha que a gente conhece eles têm, destituídos de direitos
A pressão cresce e é também um sentimento mesclado, camuflado, que a gente não explica bem
Pressão crescente, desta vez de baixo para cima
Explode em pauladas, tijoladas, incêndios, caos
Atos vândalos
A cidade Paraíso esta em explosão
Razão?????
É a guerra, tia
É a guerra....
Papapapapapapapapapa
[Diane Padial* é paulistana do Campo Limpo, poeta e psicóloga, atua como coordenadora em projeto social de incentivo à leitura e ao esporte na Comunidade de Paraisópolis. É integrante da Expedición Donde Miras e participa do sarau do Binho e Poesia de Esquina.]
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